14/06/2017

Hoje, na hora da saída da escola, a tia veio conversar sobre o comportamento de Letícia. Algo que eu já havia notado mas achava que era implicância minha. Sim, sou muito atenta com tudo relacionado a preconceito e seus afins mas observo mil vezes antes de tirar qualquer conclusão precipitada.
Letícia chamou (não foi pela 1a vez) a coordenadora de 'pretinha'.
A tia conversou na hora, disse que colocou de castigo... Concordei e vim pra casa conversando com Letícia, como sempre faço, explicando que isso era um comportamento muito feio etc etc.
Hoje foi dia de capoeira. No final do treino todos fazem uma roda, damos as mãos e rezamos. Eis que Letícia, segurando uma de minhas mãos, tinha que dar a mão para uma outra menina ao lado dela (20 e poucos anos talvez, sou péssima em chutar idade). Letícia se negou, mesmo eu falando 'dá a mão pra ela agora!' A resposta foi: não mãe, ela é 'preta'.
Pára tudo.
Aquilo me deu um ódio...
Eu não conseguia acreditar naquela situação. Por 'N' motivos.
Foi tudo muito rápido, fiquei de frente pra ela, disse que aquilo que ela estava falando e fazendo era muito errado e que ela ia sim dar a mão pra tia. Coloquei as mãos juntas e dei uma leve apertada, a da moça e a dela. Rezamos.
Pedi desculpas para a menina e expliquei sobre os problemas da Letícia ser especial, o professor da Capoeira também veio explicar. Tudo tranquilo. Mas pra mim não.
Nunca gostei quando namorei por anos um rapaz que o apelido era 'ébano' e eu sabia que tinha familiares incomodados com relação a isso, por puro racismo. Não aceito quando riem ou discriminam minha filha por ela ser diferente, não suporto qualquer tipo de brincadeira ou chacota com relação a opção sexual dos meus amigos/as gays... Não gosto. Não suporto. Sinto muita raiva disso.
Terminou a aula e como de costume voltamos de bike pra casa; no caminho, vim conversando com ela e pressionando para que ela contasse 'quem' tinha ensinado ou falado dessa maneira na escola.
Veio um nome. Finalmente.
Eu sabia.
Letícia vive comigo 24h por 15 dias corridos. Tenho controle de 97% sobre tudo que ela faz e fala.
Ela não tiraria essa história do nada.
Assim como aquela outra história de Síndrome de Down.
Estamos deitadas.
Ela vendo Peppa, totalmente alheia a esse mundo escroto que existe.
E eu, com aquele nó na garganta, porque sei que vem coisa braba por aí... Sinto profunda tristeza em saber que uma criança de 5/6 anos já tenha o preconceito tão aflorado e esteja propagando isso. Letícia, e seu problema de repetição e boa memória, apenas deu força a coisa.
Não acredito (ainda) que Letícia compreenda o que é o racismo e o que ela está fazendo ao certo, mas já avisei que estou de olho e que é para ela jamais fazer isso de novo.
Tô muito chateada.
Sabe aquela ideia de que 'tudo de ruim se aprende na escola'?! Pois é.

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